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quinta-feira, 22 de junho de 2017

25) NA GARUPA

Fabiana

Um ano se passou e tenho vontade de viver a experiência novamente.
O que começou com uma conversa entre o tio Ed e o Ralf virou uma da melhores viagens da minha vida.
Adorei a experiência de viajar na garupa da Harley, e depois de tantos anos conviver  com o tio que foi meu pai e o primo que foi meu irmão na minha adolescência me fizeram muito feliz.

Pegar a estrada de carro pra mim é um tormento. Tenho medo de acidente, não gosto do ar condicionado ligado, não sou muito de conversa...enfim, a estrada nunca acaba.
Na garupa é bem diferente.
Você sente o clima literalmente na pele.
O sol, o vento , a chuva, os odores. A sensação é muito boa e posso curti-las, pois não enxergo a estrada. Minha janela é o mundo, apreciando a beleza do deserto num dia e em outro o encanto das montanhas nevadas. Não há vidro separando e limitando a visão da paisagem. 
Eis  mais uma vantagem.
Não preciso me preocupar com nada no trânsito, afinal de contas não sei pilotar e aquela velha vontade de dar um pitaco pro motorista desaparece. E assim o vínculo entre nós aumenta.
Não confio no meu marido motorista, mas confio muito no meu marido motociclista.
Maluco, né, sinto-me mais segura na moto do que no carro.
A moto nos leva a praticamente todos os lugares. É muito mais fácil achar um lugar para estacionar, geralmente perto do lugar que estamos indo.
Quando descemos, todas as pessoas sabem que estamos viajando de moto.
Seja pelo capacete pendurado, pela jaqueta, pelos lenços ou mesmo a roupa suja que podemos usar até que a viagem termine.
Na moto podemos ficar em silêncio, ouvindo de perto o barulho a nossa volta. E no caso da moto que alugamos até ouvir uma boa música se desejar.
Todos os dias que rodamos pela Rota 66 foram demais, as paisagens são incríveis, os lugares lindos. Em alguns trechos rodamos horas no sol escaldante do deserto. Eu adorei.
A cada parada sempre tem alguém perguntando sobre a viagem, sempre tem alguma dica e algo bom pra comer e beber.
Quando chegamos ao destino no final do dia, um bom banho, um encontro para jantar com os parceiros de viagem e uma boa noite de sono nos deixa prontos para que possamos botar o pé na estrada novamente.
A todos que amam viajar não deixem de experimentar uma garupa um dia.
Ah, esqueci, a maquiagem é somente um bom filtro solar!!!

Yeah!!!


quinta-feira, 11 de agosto de 2016

24) CADÊ A POLÍCIA?

Ângelo Edval Roman

Pegamos um congestionamento numa autoestrada (isso tem por lá também). De 10 km, segundo o Waze. Estávamos só eu e o Neto. O Ralf estava indo por outra estrada com a Fabiana.


Paramos atrás dos carros e ficamos esperando, andando alguns metros a cada pouco. Vimos que vários motociclistas não paravam. Iam em frente, passando entre os veículos. Isso era possível, já que os motoristas punham seus carros bem à esquerda da pista, permitindo passagem de moto sem invadir a outra pista. Metemos a cara e passamos rápido pelos 10 km. Quando algum carro estava dificultando nossa passagem, por iniciativa própria o motorista ia pra esquerda pra podermos passar. Fantástico!

Diferente daqui, em nossa viagem só passamos por um pedágio na estrada em quase 4 mil quilômetros. No país líder do neoliberalismo, as estradas por que passamos são públicas (ou são privatizadas e as empresas bondosas deixam transitar de graça). E são estradas de qualidade. Não existem buracos, as faixas são bem visíveis, boa sinalização. Só tivemos um pequeno trecho da Rota 66 que não estava bom.

Não existem postos de gasolina ou postos de polícia rodoviária nas rodovias. Pra abastecer, tem que sair da estrada. Só numa, chegando em Las Vegas, que havia abastecimento.

Várias vezes utilizamos os postos da Chevron. Impossível não lembrar que essa empresa é a possível futura dona do Pré-Sal, como lhe foi prometido. 

No primeiro dia de viagem, em pleno deserto, paramos no único posto existente depois de Las Vegas, 50 graus de calor. Não era da Chevron. Ao lado, uma lanchonete e uma loja. Abastecemos na sombra. Encheu o tanque, é preciso tirar a moto pra ir embora ou ir à lanchonete. Estacionamento sem qualquer cobertura. 


Estávamos querendo comer. Deixamos as motos derretendo no calor, esquentando os assentos e fomos forrar o estômago. Lá dentro, fresquinho com ar condicionado. Comemos bife com batatas e coca-cola. Aqui não tomo coca-cola, mas lá no deserto descia bem. Aliás, foi a melhor coca que tomei na vida. Tomar uma depois de quase 200 km de sol escaldante chega a ser prazeroso. Tínhamos água no porta-luvas, mas esquentava com pouco tempo na estrada.

O nome do lugar é Alien Center, na Área 51, local de uma base militar de testes das forças armadas dos EUA. Consta que é uma das bases mais avançadas do mundo com laboratórios de pesquisa e um grande subterrâneo, onde funcionam as coisas. Fala-se até que lá existem naves alienígenas guardadas e um ET cativo. Proibido entrar! Interessante ler a respeito na Wikipedia.




segunda-feira, 1 de agosto de 2016

23) ROY`S E CHEGADA EM KINGMAN

Ralf

Acabamos nos separando em Calico. Eu estava preocupado com o horário de chegada em Kingman, nossa próxima parada para pernoite. Era um dia em que teríamos que rodar mais de 300 milhas, numa estrada “secundária”, com muito calor. E agora era responsável também pela minha mulher, que vinha na garupa.


O Ed e o Neto queriam conhecer melhor a famosa “cidade fantasma”, sem pressa nem pressão. Depois do episódio do dia anterior, quando nos perdemos e eles acabaram conseguindo usar o Waze no celular do Neto, sabíamos que não haveria problema.

Rodamos a tarde inteira na Route 66, Fabiana e eu. Prazer indescritível.  É uma estrada especial. A rodovia nova, moderna, está sempre perto; bem como uma estrada de ferro. Em alguns trechos a antiga e a nova até se cruzam.

A 66 é bem mais vazia do que eu tinha imaginado. Poucos se aventuram por lá nesses dias. Andamos dezenas de milhas sem ver viva alma. E há poucos postos de gasolina. Nesse trecho, o mais famoso é o Roy`s. É o posto que aparece na maioria das fotos sobre a estrada.

O Roy`s fica no meio do nada! No meio de uma reta “infinita que corta o deserto".Paramos para fotos, abastecer a moto e tomar água. Logo depois chegou um senhor para fazer a mesma coisa, DE BICICLETA! Ele vinha no sentido contrário. Eu sabia agora que ele tinha mais de 100 milhas para pedalar até a próxima cidade...  Senti um baita alívio por ter um motorzão V2 bruto e confiável para me levar adiante.
























Chegamos em Kingman no final da tarde.  Cidade legal, com vários hotéis e restaurantes. Entroncamento importante entre o Arizona, Nevada e Califórnia. O Ed e o Neto chegaram cerca de uma hora mais tarde.



















Ah, e a informação que recebemos no museu estava correta. No Arizona a 66 é bem sinalizada e conservada, diferente da Califórnia.


Carro antigo em frente ao Ramada Inn, em Kingman







Poster  "The Rat Pack", no restaurante Mattina´s, em Kingman


Show de rock na rua, em Kingman


quarta-feira, 27 de julho de 2016

22) INDIAN E HARLEY

Ângelo Edval Roman (Ed)





A escolha das motos feita pelo Neto e pelo Ralf foi racional. O Neto pegou uma Harley Road King igual à dele, que já era conhecida, moto poderosa,  ágil e que ele domina bem.








O Ralf, que tem uma BMW, quis uma que fosse confortável para duas pessoas. Em metade do trajeto ele teria a Fabiana na garupa pra atravessar o deserto. Pegou uma Harley Electra.








Eu não usei a razão. Saí da tradicional Harley. Quis uma que só conhecia por imagens: uma Indian Roadmaster. A que eu tenho em casa é uma Suzuki Boulevard.

A Indian, com seus 2,66 de comprimento e 406 kg,  é companheirona. Com dois porta-luvas, computador de bordo, som de rádio ou por aparelho ligado via USB ou bluetooth, aquecimento nos assentos e nas manoplas (para o frio), piloto automático, para-brisa com ajuste elétrico e outros confortos.


Os quatro alto-falantes produziam um som fabuloso, de 200 watts.  Eu sempre achei que som em moto só daria pra ouvir bem com ela parada.  Que nada! A disposição dos dois alto-falantes na  carenagem dianteira e dos dois na traseira permitiam audição  tranquila.  Quando se acelera, o som aumenta automaticamente por causa do barulho do motor.

Cruzar o deserto ou os lagos e montanhas ouvindo Beatles,  Rolling Stones, ou um  chorinho pelo Ipod do Neto, carregado de boas músicas, é muito bom! Viajo na estrada, na paisagem, no pensamento, na música, no vento resistindo ao meu  corpo.

Tenho hérnia de disco e estava preocupado. Não tive nada. O Pilates que faço regularmente num programa feito pela instrutora e a minha filha fisioterapeuta me permite viver quase como se não tivesse nada na coluna. Basta pequenos cuidados... e as aulas de Pilates.

Eu e o Neto trocamos de moto algumas vezes. Gostei muito de ambas. Com a Harley, por não ter carenagem, as pernas esquentam menos no deserto. O ar, mesmo muito quente, é menos do que o calor do motor trabalhando naquela situação. Na estrada é um avião. Na cidade, é melhor, por ser menor e mais leve. Tem um motor 1.5, potente e ágil. Na estrada, o motor 1.8 da Indian compensa os 60 quilos a mais de peso do que a Harley.



O consumo é parecido. Só que a Indian usa gasolina premium, mais cara.

O piloto automático, que ambas têm, ajuda muito em longas distâncias. Com ele ligado,a mão direita descansa. Isso é muito bom para trajetos longos. As boas estradas contribuem para se poder usar o piloto automático. A minha Suzuki não tem piloto automático.










A mão direita está o tempo todo em ação: acelerador, freio dianteiro, partida. Na Indian, mais pisca direito e controle do piloto automático. Na Harley, os dois piscas e o piloto automático ficam  na esquerda.

Não tivemos qualquer problema com as máquinas. Não sei como suportam o calor do deserto. Um probleminha, que não diz respeito a funcionamento, foi que entregaram a moto do Neto só com meio tanque de combustível. Descuido da loja. Ele viu isso quando já estávamos viajando. Assustamos, mas deu pra abastecer na estrada.

A Indian Roadmaster está chegando ao Brasil, acessível a poucos: 115 mil reais.







sexta-feira, 22 de julho de 2016

21) THE GHOST TOWN


Neto









De volta ao calor do deserto, um dos destinos mais legais foi Calico, no condado de San Bernardino, Califórnia. Uma minicidade, com uma mina de prata, que há mais de 100 anos esteve em atividade e agora restaram somente vestígios que foram restaurados e a pequena Ghost Town tornou-se um ponto turístico obrigatório.





Um cenário típico do Velho Oeste. Fachadas únicas de saloon, restaurantes, bares, a antiga delegacia, igreja, a mina de prata, tudo restaurado para que os turistas viajem no tempo e se divirtam na pequena cidade. Foi fundada em 1881, em pleno deserto Mojave.




Ao redor, uma cadeia de montanhas e a temperatura de 45 graus na sombra. Mas a gente esquece isso. De cada construção tirava uma foto. Os antigos estabelecimentos hoje são ocupados por lojas que vendem lembranças da região.
Um antigo restaurante abriga uma lanchonete típica dos americanos, servindo chope gelado e hambúrguer tradicional. Um piano enfeita o ambiente. Pedi até pra garçonete se podíamos dar uma palhinha. Tocamos eu, Fabiana e meu pai, que até  foi aplaudido depois de executar um número ao piano. Divertidíssimo!

O Ralf e a Fabiana comeram um lanche e partiram antes de nós a caminho de Kingman. Eu e meu pai ficamos mais um tempo lá, tirando fotos e conhecendo a enigmática e elegante Calico.






Queríamos também parar em qualquer lugar que achássemos bonito ou curioso.

Marcamos encontro em Kingman.


















domingo, 17 de julho de 2016

20) FINALMENTE, A 66!


Ralf

O plano inicial era de seguirmos direto do Pier de Santa Monica (final histórico da Route 66), em direção ao Grand Canyon. Acabamos desistindo, devido ao trânsito intenso na região de Los Angeles. São Bernardino foi a segunda opção; sabíamos que fazia parte do roteiro da famosa estrada. Acontece que chegamos lá, e nada... nenhuma plaquinha, nenhuma indicação. Pior, o GPS não aceitava nenhum destino que incluísse US 66. Como “condutor” da turma, eu já começava a achar que a “vaca tinha ido pro brejo”.

À noite, no hotel, pesquisando na internet, achei um “Route 66 Museum”, em Victorville – CA, 50 milhas ao norte de San Bernardino. E melhor, o endereço do museu era na Route 66!


No outro dia cedo rumamos direto pra lá. Deu certo! Lugar bem bacana, pequeno, ponto de encontro de motociclistas. Como em vários museus americanos os guias e funcionários eram senhores e senhoras aposentados. Após uma breve explicação sobre o museu, o nosso guia nos mostrou por onde devíamos rodar num mapa da estrada. Disse também que na Califórnia a Route 66 tem vários outros nomes e trechos mal conservados, mas que no Arizona tudo seria mais fácil.


Confesso que as primeiras milhas rodadas na “CA-66” foram de prazer, mas principalmente de alívio! Objetivo cumprido! Estávamos na icônica estrada e nada me desviaria da rota... Até que o Neto falou de uma tal de Calico, que não poderíamos deixar de conhecer.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

19) POR QUE MOTO?





Ralf

Essa viagem foi um sonho. Passamos por vários lugares únicos e lindos. Seria muito legal fazer o mesmo roteiro de carro. Por que então fomos de moto?

Tenho motos há 20 anos. Tive quatro diferentes nesse período. Três “bikes” (motos de corrida para usar também na rua) e agora uma big trail. Nunca tinha andado de Harley mais do que uma volta na quadra.



O senso comum associa moto a perigo, a risco, a acidentes terríveis, à morte. Como ortopedista e traumatologista, passei boa parte da vida atendendo “motoqueiros”- tratando de suas fraturas, suas sequelas.
Mas pra mim moto não tem nada a ver com morte. Pelo contrário. Pilotando uma moto me sinto mais vivo do que nunca. Uso todo o meu corpo para mudar de direção, freiar, acelerar. Os sentidos ficam mais aguçados : olho com mais atenção,  escuto o motor e o que acontece ao meu redor, cheiro os lugares por onde passo, sinto o calor, o vento, o frio (nunca vou me esquecer do cheiro de Yosemite Park, do calor do Deserto de Mohave, do vento que me obrigou a andar “de lado” durante quase 100 quilômetros no Altiplano entre Argentina e Chile quando fui ao Atacama...). Pra mim, moto é vida! É viver a viagem com intensidade, é sentir a estrada e cada lugar por onde passo.



Além disso, a moto agrega pessoas que dividem o mesmo sonho. Quando passamos por outras motos na estrada, nos cumprimentamos; quando encontramos algum outro motociclusta, parece que somos amigos de longa data. Quando paramos para abastecer ou comer, crianças cutucam seus pais para ver as motos; pessoas pedem para tirar fotos como se fossem elas pilotando...
É difícil explicar essas sensações pra quem nunca pilotou uma moto...  Mas, de moto é bem melhor!!!